Com o lançamento do iPad ficou clara a direção em que a Apple pretende seguir. E o caminho é bater de frente com ninguém menos que o Google.

O Pedro Dória identificou muito bem este embate em sua coluna no Link, do Estadão (veja aqui).  Segundo o artigo, a guerra se dará no campo da mobilidade. Google, de um lado, com o Android e Apple, do outro, com o iPhone OS (que também equipa o iPad).

Mas eu arrisco ir mais longe, ou mais a fundo.

Encaixou direitinho na montagem, mas e na vida real, como será?

Acho que a briga, na verdade, se dará pelo conteúdo. A web, assim como a conhecemos, tem pouco mais de 10 anos. Um tempo relativamente curto para adquirir um formato mais maduro. O Google surgiu e cresceu extraordinariamente tentando dar um pouco de ordem ao caos (e aproveitando para veicular publicidade nisso). Ou seja, o modelo de crescimento do Google sempre foi relacionado ao conteúdo.

Do outro lado, a Apple, ao lançar a iTunes Store e vender milhões de canções a US$ 0,99 descobriu um pote de ouro, que se repetiu com sua App Store e agora com a iBooks Store, como escrevi no post anterior a respeito do iPad. A empresa viu que o conteúdo era o que deixava seus hardwares absolutamente irresistíveis.

Portanto, ouso dizer que a guerra será, na verdade, pela distribuição e organização de conteúdo através da web, independente da plataforma.

Afinal, é isso que realmente desejamos. Ninguém quer um iPod a não ser pelas músicas que se pode colocar dentro dele. Ninguém quer um iPad senão pelos livros e pelos vídeos que se pode assistir nele. Ninguém quer um smartphone senão pela conectividade que nos faz receber informações de pessoas, redes sociais ou sites.

Como essa informação chegará a nós? Essa é a questão, e quem resolver isso da melhor forma, ganhará.

Assim como o Pedro Dória, avalio que a plataforma aberta do Android e do Chrome OS é a grande vantagem do Google. Se a empresa de Mountain View se esforçar para criar uma interface no patamar da Apple, será imbatível, pois o usuário poderá escolher qualquer dispositivo, de qualquer fabricante, sabendo que a experiência de uso será a mesma. Se eu quero uma tela de 10 polegadas, ok. Se quero uma de 5, também. A competitividade entre os fabricantes será maior e o preço, consequentemente, menor.

Por outro lado, a Apple continuará a oferecer um hardware de primeira, com tudo simples, bonito e prático. Mas será aquilo e só. Se eu quiser algo um pouco diferente, esquece, tem que ser o que a Apple disponibiliza.

O padrão fechado do iPhone OS e as criteriosas avaliações da Apple a cada aplicativo garantem uma qualidade inegável. Cabe ao Google criar um mecanismo que impeça a instalação de programas de baixa qualidade em seu sistema operacional, mas que mantenha a pataforma aberta ao mesmo tempo. Esse é o desafio mais iminente que vejo para competir com a Apple em relação a usabilidade. Rumores sobre uma Google App Store já começaram a surgir (veja aqui).

Indo um pouco mais adiante…

O modelo das Stores da Apple, até agora se baseia em downloads. Mas já há boatos de uma versão web do itunes, o que indicaria um desvio em direção ao streaming. E, a meu ver, esse é o futuro da distribuição de conteúdo. É claro que necessitamos da cooperação do setor de telecomunicações. Mas não há volta.  Logo, logo, as conexões se tornarão onipresentes e sem restrições de velocidade e banda.

Nesse ponto, nesse futuro não tão distante, é que começará a se delinear uma forma mais consistente para a internet.

E onde Apple e Google entram nesse jogo?

E agora, quem vai sair bem na foto?

Quem oferecer a maior quantidade de conteúdo relevante e organizado dominará o mercado de uma forma avassaladora.

Um modelo possível será o das assinaturas. Você poderá assinar o conteúdo inteiro da iTunes Store e ouvir o que quiser, quando quiser, com seu iPhone ou iPod 3G (ou sejá lá qual G for).

Imagine-se pagando um X mensal para ter acesso a revistas e jornais de qualquer canto do mundo. Você também assistirá qualquer programa de TV com sua assinatura.

Em relação à música, a Apple já está anos à frente. Com os livros, jornais e publicações, o Google teria vantagem, principalmente por conta do seu gigantesco projeto de digitalização de livros. Correndo por fora podemos incluir a Amazon, mas acho que é muito mais provével um acordo desta com Apple ou Google.

Um dispositivo como um tablet poderá lhe oferecer tv, música, livros, revistas, jornais, além de todo o conteúdo da web. Tudo instantâneo, nada armazenado no seu aparelho. Essa evolução do hardware é inevitável, vai acontecer daqui 5 ou 10 anos. Vai acontecer de um jeito que chegará um ponto onde o equipamento em si fará pouca diferença. O sistema dentro dele sim.

Esse sistema terá que conhecer seus gostos pessoais para lhe oferecer uma programação que lhe agrade. Esse sistema deverá ter um mecanismo de busca muito inteligente, capaz de saber exatamente o que você quer dizer quando procura algo. Esse sistema terá que ser bonito e simples para que qualquer pessoa possa utilizá-lo.

Veja só: o sistema tem que se relacionar com o conteúdo e estabelecer a conexão do usuário com a internet.  Hoje, o Google é melhor para gerir a informação, a Apple, para nos entregar. Mas como será daqui pra frente?
Apesar de todos falarem que Steve Jobs é um visionário, e eu concordo em parte com isso, o Google parece estar se preparando de uma forma muito mais adequada para o futuro.  A visão de que o hardware irá se tornar menos relevante do que o software e o investimento em computação nas nuvens abre uma enorme vantagem competitiva, sem falar no tamanho da empresa. Os emails, os vídeos, os documentos, as agendas e as fotos de milhões de usuários já estão sob os cuidados do Google. A criação de um sistema que integre tudo isso e, a partir de todos esses dados, possa entregar uma experiência de navegação customizada é algo que só essa empresa pode oferecer hoje.

A base de dados e o conhecimento do “consumidor”que o Google possui me parece um ativo muito mais valioso do que qualquer imagem de marca que a Apple possa ter. Todo o business do futuro da internet vai ser feito a partir desse cruzamento de informações com a oferta de produtos e serviços, provavelmente através de parcerias estratégicas.

Eu não posso terminar esse texto sem mencionar um outro player da internet. Adivinha quem? A empresa do titio Gates ainda é um colosso, mas parece estar perdendo o bonde da história, presa ao seu gigantismo. A Microsoft já ganhou muuuuuuito dinheiro com seu sistema, por isso é tão difícil se desapegar disso, enquanto Android, Chrome OS, iPhone OS e MacOS são gratuitos ou bem baratos. Se a Microsoft não substituir seu péssimo Windows Mobile por uma plataforma aberta, eficiente, simples e barata, pode se tornar irrelevante para o usuário final no futuro.

Como você deve ter percebido, eu aposto todas as minhas fichas no Google. As declarações de Steve Jobs, desdenhando a empresa, mostram que ele está realmente preocupado. Mas estamos falando do homem que mudou a computação pessoal. Ele pode ter alguma carta na manga. Mas é bom ele não demorar muito para usá-la.

PS: Eu tinha acabado de escrever este post quando li esta notícia. Acho que a guerra começou antes do que prevíamos.

Designer do Google mostra projeto de tablet da empresa. Os competidores já estão no ringue!!
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