Estava conversando com uma amiga e ela elogiava este blog, dizendo que é interessante ver aqui as tendências do mundo da tecnologia.
Alguns posts realmente apontam caminhos que podemos cruzar em algum lugar do futuro.
Mas a conversa me levou a uma reflexão mais profunda, a começar por uma categoria de profissionais muito em moda hoje: os futurólogos. Seu dia-a-dia consiste em observar as tendências que estão se formando e auxiliar empresas na tomada de decisões estratégicas de longo prazo.
Pois bem, se até este modesto blog pode palpitar sobre o que vai acontecer, por que um profissional altamente capacitado não pode fazer o mesmo em escala maior?
Sim, os futurólogos acertaram muitas coisas se olharmos hoje o que escreveram ontem. Não devemos nunca esperar que acertem tudo, afinal não são oráculos.
Mas considero que está ficando cada vez mais difícil prever o que acontecerá com nossa sociedade, principalmente na sua relação com a tecnologia. Ou melhor, as previsões tendem a ter prazo de validade menor.
Explico.
É possível sim, observar tendências no comportamento das pessoas e no desenvolvimento de novas tecnologias a curto prazo. Olhamos para os tablets e vemos que as pessoas logo estarão usando iPads, Kindles e outros aparelhos que seguem o mesmo conceito. O desenvolvimento das telecomunicações permite que digamos, sem margem de erro, que a Internet estará onipresente graças à comunicação sem fios. A partir desses dois fatos, podemos traçar outras tendências correlacionadas, derivadas desses avanços que nos parecem inevitáveis.
Mas aí aparece o imponderável.

Hoje, evolução tecnológica ocorre em progressão geométrica. A disseminação do conhecimento acontece sem regras, sem caminhos pré-definidos. Uma experiência no Colisor de Partículas na Suíça é imediatamente analisada por milhares de cientistas no mundo todo. Publicações científicas estão disponíveis a qualquer pessoa instantaneamente.
Tendências, invenções que enxergamos hoje podem ser influenciadas amanhã e tomar rumo novo, imprevisível.
As teorias da formação da vida na Terra podem ilustrar melhor o que quero dizer.
Tomemos a hipótese da sopa primordial, que diz que a vida na Terra se deu graças à reações químicas dos diversos elementos que existiam na superfície do planeta. Moléculas sem vida combinaram-se e, com o tempo, tornaram-se organismos vivos. Organismos vivos evoluíram e deram origem a espécies distintas. Essa evolução se espalhou para todos os lados, criando tanto mosquitos como seres humanos.
Neste caos primordial estavam contidos todos os elementos necessários. Se fôssemos observadores cósmicos, poderíamos prever que dali talvez surgisse um organismo vivo. Mas nunca poderíamos prever o aparecimento dos vertebrados, a não ser na iminência de seu aparecimento.
Nosso conceito de futuro está em cheque. Nossa capacidade analítica não é mais suficiente para abarcar tudo o que está acontecendo. Alguém pode dizer como será o mundo daqui a cem anos? Vamos combinar que não ocorrerão hecatombes climáticas ou guerras mundiais, ok? A tecnologia avança na criação de inteligências artificiais. A medicina desbrava as terapias genéticas. O futuro não nos pergunta mais como estaremos, mas o que seremos.
Estamos no meio do caos. E desse caos emergirá um novo ser humano, acredite. Nossos tataranetos não se reconhecerão em nós.
Não podemos prever o futuro, mas com certeza participamos de sua construção.
Com o advendo dos meios de transporte e comunicação modernos, surgiu uma nova perspectiva: a aldeia global. Com a internet, essa tese se eleva à enésima potência.
Pela primeira vez na história, existe um organismo que podemos chamar de humanidade. Anteriormente havia o conceito de civilizações humanas, distintas e parcialmente independentes.
Mas porque chamo a humanidade de organismo?
Existe outra teoria que tem feito muito sucesso atualmente, a Teoria dos Enxames. Nela, examina-se como os indivíduos de um formigueiro trabalham independentemente para o sucesso e sobrevivência da colônia, mesmo sem terem consciência de seu papel no processo. Nenhum dos indivíduos, formiga, cupim, gnus, tem inteligência para planejar ou compreender o que acontece, mas o grupo todo, junto, possui uma inteligência coletiva que é responsável pela sobrevivência da espécie. Os grupos tomam decisões sem haver um comando central, rei, rainha ou presidente.

Muitos pesquisadores têm tentado criar modelos matemáticos para aplicar essa teoria à atividade humana. E eu acredito que em breve conseguirão.
A internet é o começo da inteligência dos enxames aplicada ao ser humano.
O caos primordial em que estamos vivendo vai se desenvolver sem seguir regras estabelecidas por governos ou por conspirações de poderosos, mas através dessa nova inteligência, criada a partir da soma de cada individualidade.
Já vemos isso na Internet. Grandes sucessos como o Facebook, sendo criados por adolescentes, fóruns de discussão onde a própria comunidade participante modera o conteúdo, excluindo os membros que não seguem os princípios de convivência estabelecidos, programas P2P para disseminação de conhecimento (também conhecido por pirataria), hackers, crackers…a rede não tem dono, nem controle. E ela cresce, altera-se, aprimora-se, tem praticamente vida própria.
Mas a teoria do enxame não pode ser encarada como determinismo: “a inteligência coletiva será responsável pelo nosso bem-estar, portanto não preciso me preocupar nem fazer nada”. Muito pelo contrário, nossa sociedade precisa, como nunca, estabelecer prioridades para conduzir sua própria evolução. Afinal, nossa colônia é muito mais complexa do que a das formigas: temos a economia, a política e a consciência das pessoas para complicar a equação. Vamos sempre precisar da moral, das regras e das leis. Indivíduos que valorizem o próximo vão agir seguindo essa premissa. O resultado coletivo será uma sociedade com iguais valores. Não muda nada no que conhecemos a respeito de ideologias, filosofias e ética. Na verdade, esses temas têm que voltar à pauta para a que a base onde será construida a nova sociedade seja sólida e benéfica.
A meu ver, esse é o compromisso da geração atual: se é para o ser humano evoluir, que evolua a partir de um bom modelo.
Não será fácil tomar essa responsabilidade. Mas a atual conjuntura é única também neste aspecto. É muito mais fácil aderir a uma causa hoje. Há mais informações, mais comunicação, mais oportunidades para todos.

Se formos olhar para a história da humanidade, quantos Einsteins não se perderam na miséria, quantos Gandhis não se afogaram na ignorância, quantos DaVincis não padeceram isolados? A possibilidade dos gênios surgirem é infinitamente maior do que era há um século.
Pessoas com idéias novas, com carisma e poder sobre as consciências vão aparecer e será mais fácil encontrá-los e seguí-los.
Enfim, há esperança. É isso o que enxergo.