Pano rápido – Wikileaks

Semana conturbada essa. Após o Wikileaks revelar segredos da segurança nacional dos EUA, seu fundador foi preso por uma estranha acusação de estupro e agora PayPal, Visa e Mastercard cancelam a transação das doações que mantém o site funcionando.

Tudo estranho…muito estranho…

Fica claro que o site tem incomodado muita gente, gente poderosa, por sinal. Mas o episódio pode nos levar a reflexões muito mais profundas.

A reação dos governos já era esperada, mas a colaboração imediata das instituições financeiras é, no mínimo, curiosa. Visa e Mastercard funcionam como plataforma de doações para milhões de sites: pornográficos, racistas, extremistas e sabe-se lá quais mais. Mas a pressão sobre o wikileaks foi demais para sua moral capitalista.

O que está em jogo, a meu ver, determinará o caminho da liberdade irrestrita na internet.  Para entender o que é isso, pense que a internet trouxe, pela primeira vez, uma plataforma de mão-dupla, ou seja, a gente consome e cria conteúdo ao mesmo tempo. Isso mudou as regras da velha mídia: surgiram blogueiros, redes sociais e o indivíduo, aparentemente, passou a ter uma relevância maior no jogo político global.

A falta de controle sobre uma rede orgânica como a internet também fez surgir sites P2P (leia-se pirataria digital), sites de pedofilia, comunidades racistas e tantas outras formas não aceitáveis de comportamento. Tudo isso ainda era tolerado, repreendido suavemente, mas tolerado. Agora, com o wikileaks, o jogo mudou. O governo americano viu suas feridas sendo expostas e a dita segurança nacional americana é mais importante que qualquer interesse comercial ou padrão moral. E o cerco ao wikileaks se deu de forma impressionante e coordenada.

A contra-reação está sendo dada por hackers, os paladinos da internet livre. Estão atacando os servidores do Pay-Pal e provavalmente tentarão algo contra visa e mastercard.

O que eu acho de tudo isso? Acho que é uma luta de Davi contra Golias, pra cair no chavão.

O problema é enorme: como manter a web libertária e democrática e, ao mesmo tempo, impedir cyber-crimes? E como julgar o que é crime e o que é evolução da sociedade? Pra citar um exemplo: direitos autorais – download é ilegal hoje, mas será que não a propriedade intelectual não está sendo questionada pela sociedade? Por outro lado, a pedofília é um crime brutal, mas acontece com grande intensidade na rede. E se os pedófilos argumentarem que os costumes estão mudando? Quais serão os critérios legais que distinguirão os dois casos?

Viu como a questão não é simples?

O que talvez o caso Wikileaks provoque é uma aceleração da repressão à liberdade na rede, sem tempo para discussões filosóficas que os outros temas trazem consigo. Talvez seja a oportunidade que interesses capitalistas de gravadoras e estúdios estavam esperando, o pretexto para governos democráticos-autoritários tomarem medidas que restrinjam a liberdade na web.

Será que a contra-reação da sociedade acontecerá realmente? Será que damos valor para essa liberdade?

Veremos…

ATUALIZAÇÃO:  Esqueci de mencionar o pior. Parece que o Twitter está ignorando o termo Wikileaks em seus trend topics (assuntos mais comentados). Ou seja, estão tentando apagar o site, como Stálin fez com as fotos onde apareciam antigos dissidentes. Isso sim é censura! E vem do Twitter, sem nenhum motivo ou justificativa plausível. Que medo…

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