É possível gostar de tecnologia e ser ecológico ao mesmo tempo?

Se tem uma característica da Geração Beta que vai além da relação direta com a tecnologia, é a defesa do meio ambiente.  É senso comum entre os mais jovens a necessidade de cuidar do planeta, proteger as espécies em extinção, evitar o desmatamento etc etc etc. Essa consciência vem da escola, há anos os professores de ciências têm alertado as novas gerações sobre as consequências da ação do homem no ecossistema.

Mas neste início de século, algo diferente está acontecendo. O discurso sobre responsabilidade ambiental tomou o mainstream, talvez porque as ameaças e consequências sobre a natureza estejam cada vez mais evidentes.  Hoje vemos empresas de petróleo falando de sustentabilidade, indústrias de celulose se gabando de suas ações verdes e por aí vai.

Até as empresas de tecnologia entraram na dança. O próprio Greenpeace disponibiliza uma lista elencando as empresas com atitudes mais limpas. A Apple, que há alguns anos era uma das vilãs do meio ambiente, mudou suas diretrizes e hoje é um exemplo.

Que lindo! E além de tudo é ecológico. Vou comprar um...não, vou comprar dez!

Daí, eu fico pensando: que ótimo, monitores sem substâncias tóxicas, computadores produzidos com elementos recicláveis. Enfim conseguiremos salvar o planeta!!! Será?

A questão do aquecimento global é muito séria. Não preciso nem mencionar o calor que está fazendo, né? Mas tem gente que ainda não vincula o fenômeno à ação do homem. Dizem que se trata de um ciclo natural do planeta, que possui eras do gelo e eras mais quentes. Ok. É um bom argumento e pode até ser verdade. Mas não é por isso que devemos continuar a destruindo florestas, extinguindo espécies, comprometendo a biodiversidade, poluindo rios. O calor do planeta pode ser normal, mas a fumaça que respiro não é. Crianças com problemas pulmonares lotando os pronto-socorros no inverno não são coisas normais. O problema da escassez de água potável continua existindo, o assoreamento de rios também. Reduzir o problema ecológico ao aquecimento global é perigoso porque pode dar argumentos para quem o nega e também porque pode nos fazer acreditar que é só reduzir a emissão dos gases que o provocam para resolver o problema.

A questão está em estabelecer qual a relação que humanidade deseja ter com o planeta em que vive. Será uma relação de parasitismo, onde um organismo exaure o outro para viver ou será de simbiose, onde as espécies se completam, cada uma servindo a outra e todas sobrevivendo com benefícios mútuos?

Eu escolho a segunda opção.

Agora você pode se perguntar: onde entra a tecnologia, que é o assunto principal desse blog?

Simples, eu não acho que as empresas bens de consumo de tecnologia tem feito qualquer esforço para proteger o meio ambiente. Elas lançam produtos “verdes”, mas lançam duas, três vezes ao ano. Ou seja, terei que trocar meu celular ecologicamente correto daqui um ano, pois outro com mais recursos o deixará obsoleto.

Sua TV de LCD, produzida de maneira sustentável terá de ser substituída logo por outra melhor e que consome menos. Mas quanta energia foi gasta nessa produção? Vale a pena mesmo ficar trocando de produtos dessa forma? Isso é ecológico? E nem mencionei ainda a questão do lixo tecnológico, das baterias descartadas no meio ambiente…

O ponto central do meu argumento: é impossível ter uma atitude realmente preocupada com o meio ambiente nesse ambiente de estímulo desenfreado ao consumo. Essa onda de responsabilidade ambiental e sustentabilidade pode até diminuir o ritmo, mas não vai impedir a destruição dos nossos recursos naturais. Na verdade, essa moda não tem nada de sustentável do ponto de vista do planeta. Só sustenta os lucros das grandes empresas. E por um prazo relativamente curto.

Como você já deve ter percebido, a questão do consumo não está restrita a aparelhos eletrônicos. Continuamos valorizando carros novos, produzindo brinquedos ultradescartáveis, imprimindo em papel, ganhando presentes com embalagens enormes, comprando, comprando, comprando.

A área da tecnologia só é um exemplo ainda mais claro. E a questão da tecnologia em desenvolvimento, os produtos Beta, que são lançados antes mesmo de se saber se são úteis ou se vão durar tornam as coisas evidentes. O que milhões de consumidores que compraram um DVD-HD vão fazer agora que o Blu-Ray ganhou a guerra e se tornou padrão? Lixo! E as empresas ditas verdes, como a Apple, continuam utilizando uma estratégia nada sustentável em seus lançamentos: um produto é lançado hoje – o iPad, por exemplo, milhões o compram. Nove meses depois lançam outra versão, agora com câmera. Quantos aficcionados não vão jogar fora o antigo para comprar o novo? Alguém duvida que a Apple já não poderia ter incluído a câmera na primeira versão? Eu só usei essa empresa como exemplo, mas todas fazem a mesma coisa. E nós, completamente seduzidos, continuamos a comprar e descartar, sempre.

iPod. Lançado há 9 anos, já tem dezenas de versões para fazer basicamente a mesma coisa: tocar música.

O modelo do capitalismo atual nos leva a essa situação. As empresas estão lutando para sobreviver. Mas o que teremos se continuar assim? Empresas sem consumidores, sem planeta?

Infelizmente eu não possuo solução para o problema, não faço a menor idéia, para ser sincero. Mas a pegunta precisa ser formulada antes de termos a resposta, não é?

Essa crise global deveria ser uma boa razão para discutirmos o capitalismo e os meios de produção atuais, mas não é o que acontece. As pessoas estão hipnotizadas por seus celulares, computadores e não conseguem se distanciar um pouco para pensar mais amplamente.

Por outro lado, a internet nos permite uma independência e uma liberdade para abordarmos esse tema sem medos. Está na hora de pensarmos em uma autodeterminação da espécie. O ser humano precisa pensar no seu futuro como raça e não apenas como povos. Será possível ou estamos nos transformando em uma boiada muito bem informada?

Essa imagem eu só coloquei aqui para dar um efeito dramático ao post.

Pra não dizer que não falei das flores (alguns pensamentos para um futuro hi-tech, porém menos consumista e mais ecológico)

–       E-readers. Chega de imprimir. Papel será um luxo.

–       Fim das mídias físicas: CD, DVD, Blu-Ray, HDs. Todo o conteúdo será feito por streaming, através de conexões ultravelozes. Com isso, acabaremos com aparelhos leitores dessas mídias também.

–       Gadgets modulares. Você compra uma TV de ultima geração. Se surgir alguma nova tecnologia, você simplesmente troca o módulo específico. Modulo de conexão mais rápido, por exemplo. Você pode adicionar as novidades ao aparelho. A engenharia teria que se moldar ao conceito que os aparelhos não são descartáveis e que devem evoluir mesmo assim. A nanotecnologia pode ser um dos caminhos.

–       Unificação de padrões. Chega de aparelho que funciona nos EUA e não no Brasil. Todos os aparelhos terão que ser compatíveis entre si. Plug de energia? Um serve para todos.

–       (Sei que esse ponto é uma utopia) – Uma definição global de prioridades no desenvolvimento de tecnologias. Até que ponto vale a pena possuirmos um videogame ligado ao cérebro por telepatia e termos que conviver com o câncer, a fome, a Aids e a gripe?

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