Um dos aspectos da nossa vida que ainda não foi virado de cabeça pra baixo pela tecnologia é a educação. Se formos pensar a respeito, é realmente estranho, não?
Em nossos escritórios, os computadores são onipresentes. Em nossas casas também. Mas, nas escolas de ensino fundamental e médio, a tecnologia ainda é uma coisa rara, restrita aos laboratórios de informática. Mesmo nas melhores escolas particulares de São Paulo, o uso da internet é ocasional, para pesquisas específicas.
Por que as escolas demoram na adoção das novas tecnologias? Seria a educação uma atividade conservadora por natureza? Será que os educadores ainda não estão conectados em suas vidas privadas? Ou o uso de computadores atrapalharia o processo natural de aprendizado?
Uma das pistas para explicar as causas desse fenômeno está justamente no assunto central deste blog: o estágio beta. As tecnologias da comunicação não estão prontas, estão em desenvolvimento. Para se criar um novo método pedagógico é necessário uma base sólida, estruturada e passível de comprovação. Ninguém quer brincadeiras e experimentos na educação de seus filhos, certo?
Pois teremos que esperar as tecnologias se estabelecerem para depois criarmos um novo sistema educacional?
Mas…será que as tecnologias irão chegar a um ponto de maturidade?
A revolução informacional, segundo Manuel Castells, se caracteriza e se distingue das outras revoluções (como a Revolução Industrial) por ser um processo em constante desenvolvimento tecnológico: “O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso.”
E mais: “As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa.”
Ou seja, as tecnologias não estão sedimentadas e nem vão ficar. Portanto, a meu ver, esperar não é a melhor opção.
Se não adotarmos mudanças radicais que acompanhem as novas tecnologias, o processo educacional corre o risco de se tornar obsoleto e irrelevante em brevíssimo espaço de tempo. E a lição que os novos tempos nos ensinam é que hoje se aprende fazendo. Isso vale para os alunos, mas também para os pedagogos.

O método educacional tradicional sempre foi baseado no acumulo de conhecimento. Aprendemos física, química, matemática, português etc. O fato é que hoje conhecimento virou um commodity, matéria abundante, que encontramos disponível à distância de um Google.
Temos a Wikipédia, uma incrível enciclopédia colaborativa, temos vídeo-aulas no YouTube e o MIT já disponibiliza diversos cursos de altíssima qualidade pela internet, gratuitamente. O conhecimento humano caminha para estar, todo ele, presente na rede. É essa, justamente, a missão da maior empresa de tecnologia da atualidade, adivinhem… o Google.
Com oferta ilimitada de informações, a simples transmissão de conhecimentos não requer mais estruturas físicas. Este fato é muito bom, pois dá recursos a uma enorme parcela da população que não tinha acesso a escolas e professores de qualidade. E não se preocupe: exclusão digital está com os dias contados. A lógica do novo capitalismo depende da inclusão das classes baixas no mercado consumidor. Já podemos ver isso ocorrendo aqui no Brasil, na Índia e em tantos outros países em desenvolvimento. O mundo caminha para um futuro onde todos terão acesso ao conhecimento.
Desta forma, a função da escola volta a ser o que era há séculos: um espaço para o estudo (e não o acumulo) do conhecimento. A filosofia, a ética, a lógica e mais especificamente, a epistemologia (teoria do conhecimento) se tornam a bola da vez. O importante será preparar as novas gerações para lidar com a quantidade infinita de informações, instrumentalizar as crianças para que saibam procurar, filtrar, criticar e co-relacionar as diversas fontes de conhecimento. A escola tende, e aqui assumo meu tom otimista, a se tornar fonte de sabedoria e não de conhecimento.
Mas quais são os instrumentos que devemos oferecer para os alunos? A própria tecnologia.
Só com profunda intimidade em relação aos processos da tecnologia da informação se faz possível usufruí-los em sua plenitude. As crianças, na escola do futuro, criarão seus próprios métodos de aprendizagem, respeitando suas individualidades e potenciais. Os professores novamente ganharão relevância no processo, pois serão os instrutores e os curadores do vasto conteúdo disponível na rede. Caberá ao professor estimular e ajudar a desenvolver a lógica específica de cada indivíduo, agindo mais como um sábio que indica os caminhos do que um guia que leva as pessoas até o lugar onde querem chegar.
Mas isso tudo parece tão distante, não?
Claro que a visão utópica que coloquei acima talvez nunca se concretize, mas com certeza trilharemos estradas paralelas. Falta muito pouco para que tablets, como o iPad, sejam adotados em larga escala nas escolas. Veremos a extinção dos livros ditáticos em papel e o surgimento de apostilas conectadas, onde o conteúdo será interativo, com hiperlinks e possibilidades de aprofundamentos, além de redes sociais de alunos e professores incluídas no próprio material escolar. Essa transição, por si só, irá desconstruir a metodologia atual.

Um grande mercado que vislumbro hoje é a criação das apostilas e de uma metodologia básica para o ensino eletrônico, presencial ou não.

Devemos ter em mente que nem todos terão acesso a escolas com sábios professores. Nosso dever, como humanidade, é propiciar às futuras gerações a possibilidade de desenvolvimento de suas potencialidades individuais. A criação de um método à distância que garanta um aprendizado de qualidade é um desafio inspirador.
Por outro lado, como vimos nos parágrafos acima, o professor não pode deixar de existir. Mas terá que ser reinventado: outro desafio enorme e empolgante.
Fica a pergunta: as escolas tradicionais terão tempo de se adaptar ou serão atropeladas pela revolução?